Uma ode ao burlesco brasileiro
O voto é secreto, bananas, o burlesco é resistência, e como nascem os ornitorrincos
A essa altura você já conhece o Podcastinho: o podcast para quem tem preguiça de ouvir podcast. Podcastinho tem a duração de um áudio de WhatsApp, e obviamente nasceu da minha própria preguiça de perder um tempo precioso da vida editando podcast.
Gravo uns áudios, subo pro Canva, coloco uma capinha bonita e voilà: habemus Podcastinho. Simples assim.
Nesta edição, falo um pouco desse segundo turno das eleições:
Um pouco MESMO - tem nem três minutos de áudio. Aproveita e se inscreve lá no canal: https://www.youtube.com/c/LiaAmancio/
Exposição digital examina o lado sombrio das bananas
A exposição virtual La Fiebre del Banano / Banana Craze (https://bananacraze.uniandes.edu.co/language/en/) investiga a presença das bananas na arte contemporânea latino-americana, reunindo mais de 100 obras com bananas, não apenas em sua dimensão estética, mas também política. Via Hyperallergic.
Burlesco é amor
Essa aí na capa do post é a Lily Corbeau. Se você clicar, vai ver um grande elenco de burlesco que se apresenta mensalmente no teatro Rival, no Rio de Janeiro.
O burlesco, permita-me dar palestrinha, geralmente termina com uns peitos e bundas de fora, mas engana-se quem pensa que é sinônimo de objetificação feminina, que se resume a umas gostosas fazendo striptease para macho ver.
Para começar, grande parte da plateia é feminina.
A origem do teatro burlesco está na sátira, no pastiche, na caricatura e no escárnio. Burlesco vem de ‘burla’, né? Ao longo do tempo, o burlesco ganhou espaço nos teatros de variedade, e nos anos 1800 os espetáculos burlescos abrangiam paródias musicais, sátiras políticas, mágicas, piadas ruins e umas dançarinas e cantoras - que, no seculo XX, foram sendo gradualmente substituídas por números de striptease, até o ponto em que o striptease virou a principal atracão da noite.
Corta para os dias de hoje.
Existe o burlesco-striptease. É obvio que existe. Quem não quer ver uns peitos e umas bundas, não é mesmo?
Mas o burlesco que eu amo abriga corpos fora do padrão estético vigente - corpos grandes, gordos, corpos acima dos 40, 50, 60, corpas trans, travestis, corpos que ousam burlar as normas e dizer “eu também existo, aqui dentro é meu espaço e eu vou tirar a porra da roupa, quer você goste ou não”. E a plateia, majoritariamente feminina, se identifica, pensa “ei, isso é para mim também”. E gosta. E volta.
O burlesco que eu amo tem palhaçaria, tem humor, tem escatologia, tem teatro, é queer e tem cunho político - a própria existência de uma cena burlesca em tempos de Bolsonaro presidente e Damares Alves eleita senadora já é, na minha visão, um ato de resistência. Não me leve a mal, o burlesco limpinho e cheio de pérolas também é lindo. Mas na minha cena burlesca preferida tem pomba-gira, tem malandra, crítica social, tem um quê de anti-arte
e acontece no centro do Rio a noite (sinta o cheiro desta frase).
Dia 17 de novembro tem o Yes, nós temos burlesco, festival que acompanho desde a primeira edição. Parei um tempo por motivos de bebê e pandemia, mas agora que a criança já fica com o pai e avós e que estou tetravacinada, volto às plateias dos eventos. É no Teatro Rival, no Rio de Janeiro. Bora?
Saiba mais aqui: https://instagram.com/yesnostemosburlesco
Coisas que talvez você tenha perdido:
Seu tempo vendo o último debate presidencial;
Nina Hagen cantando ‘16 Tons’:
Roberta Miranda convocando punhetaço na internet:
Como nasce um ornitorrinco:
Um beijo e até a próxima!